quinta-feira, 31 de março de 2011

Clube do Monza 89

Eu moro em Campina Grande. Demorei oito anos pra assumir isso. Foi o tempo que levei para deixar de levar roupa suja pra minha mãe lavar em João Pessoa.

Campina Grande é uma cidade ruim em quase todos os sentidos. Ela é hostil. Ela não é acolhedora, embora receba muitos retirantes.

A minha bronca com Campina Grande não é o fato dela ser uma cidade à beira do caos. Quase todos os lugares que conheci são inóspitos. Recife é péssima. Salvador é bem por aí. João Pessoa não é Zurich na beira do mar como dizem. O que me irrita em Campina Grande é o fato de terem se acostumado com isso.

Se você tem um Monza 89 você tem 3 opções:


  • Cagar e andar (que expressão!) para o que os outros pensam sobre o seu carro velho.
  • Tentar melhorar seu carro ou melhorar de carro.
  • Entrar para o clube do Monza.

A duas primeiras opções, na minha opnião, são digníssimas!!! Mas os campinenses entraram para o clube do Monza das cidades ruins. Eles acham que está tudo bem. Sentem até orgulho.

"Po, bicho. Culpa sua também, né? Quem mandou andar pelo centro a essa hora?"
"Ah, velho. Você vai andar à pé em bodocongó. Bem feito."
"Está reclamando? Get back to where you once belong, po."
"O cara que deu o tiro veio da torcida do São Paulo."

É impressionante. A culpa nunca é da situação em que a cidade está. Nunca é a cidade, afinal, existem outros lugares piores. 

Pelo que conta a história, Campina, no passado, já foi um Monza zerinho!!! Mas passou, gente. Dá a impressão de que só sobrou a lembrança de um dia ter sido um carro novo. 

O que ficou foi esse sentimento traiçoeiro chamado orgulho. Não importa o que aconteça, meus 3.5 graus de miopia orgulhosa só me mostram uma cidade maravilhosa.

quarta-feira, 16 de março de 2011

São todos artistas

Existe por aí esse esforço, ainda que velado, mas existe. Esse esforço para desmoralizar o que se torna popular ou que vem das classes menos abastadas.

Sempre foi assim. Sempre será. Só acharam bonito "Você não me ensinou a te esquecer" e "Sozinho" quando Caetano Veloso cantou. Jogam merda na cara de Kelly Key e Latino, mas quando Maria Gadú faz um cover acham bonitinho.

Foi só o Rei Roberto cantar "Se ela dança, eu danço" que o funk do MC Leozinho ficou poesia pura.

Não sou eu quem diz isso. Eu só concordo. Hermano Vianna há um bom tempo vem tentando fazer justiça aos movimentos marginalizados, que, por coincidência, são originalmente de classes pobres. Esse texto sobre Calypso é sensacional, mas aviso aos pseudo-intelectuais de plantão: vocês vão precisar ter estômago para engolir tamanha sabedoria. Um aperitivo: "Salve Chimbinha! Salve Joelma! Os músicos mais populares no Brasil hoje! Quando vão ganhar a medalha do mérito cultural?"

Longe de mim defender esses artistas (?) - latino, U2, kelly key, peninha, calypso etc. Eu acho muito ruim a música deles, inclusive.

No entanto, pra mim, quem fala em pureza é conceitualmente facista.

Volta e meia um pseudo-intelectual me vem com uma dessas: "Horrível essa música. Não tem letra. Bom era no tempo de João Gilberto".

Era mesmo. Lindo. Olha só:


Bim bom bim bim bom bom
Bim bom bim bim bom bim bom
Bim bom bim bim bom bom
Bim bom bim bim bom bim bim

É só isso o meu baião
E nao tem mais nada não
O meu coração pediu assim, só

Bim bom bim bim bom bom
Bim bom bim bim bom bom
Bim bom bim bim bom bom



Corta esse papo, gente! Não mete essa! O poder, como dizia Raul, está na suas mãos, é só mudar a estação. (Quando não houver os famigerados "paredões" por perto.)


Qual o problema em alguém gostar de algo como funk? Quem foi que disse que o objetivo da música é unicamente transferir sabedoria? E que sabedoria é transmitida em Bim bom e em música eletrônica que não é transmitida em funk?

Para mim, João Gilberto, Roberto Carlos, Zezé di Camargo e José Augusto são tudo uma coisa só. Todos música popular brasileira. Uns eu gosto mais, outros menos. Uns cantam melhor, outros menos. Mas são todos artistas! Não há porque desqualificar nenhum deles levando em consideração pureza.

Se ao menos esse povo conhecesse Arthur Moreira Lima e João Carlos Martins.


Para me contradizer, como sempre faço, eu acho que a decisão mais acertada de todos os tempos vetar música baiana em olinda. Só assim não ficamos à mercê de:

  • Harmonia do Samba
  • Caetano Veloso
  • Foge Mulher Maravilha
  • Toma negona
Obs1: Eu acho ruim de dar dó aviões, garota molhada, perereca safada etc.

Obs2: Eu considero Zezé di Camargo melhor que Roberto Carlos.
Obs3: Considero que, no Brasil, não há ninguém que cante melhor que João Gilberto.